
Essa história aconteceu há muito tempo... No tempo dos escravos. Diz que tinha um rapaz que adorava ir numa casa de família onde moravam muitas moças. O rapaz ficava falando, no meio das moças, feliz da vida. Mas teve um dia que ele tanto falou, tanto contou, e se empolgou, que sem querer (mas sem querer mesmo) ele soltou um PUM. Ai, que o rapaz ficou tão sem graça. As moças zombaram tanto dele, que o pobre logo inventou uma desculpa e foi embora.
Ia pela rua cabisbaixo, quando encontrou uma velha que ele conhecia de há muito tempo. A velha quando viu o rapaz tão triste, perguntou:
- Que foi, meu netinho, que vai assim tão triste?
- Deixe minha vó, deixe... Olha que agora fiz uma besteira, mas uma besteira grande!! Não é que eu estava na casa daquelas moças e sem querer, mas sem querer mesmo, eu soltei um pum. Ai, que elas zombaram tanto de mim...
- Deixe, meu netinho, que eu vou arrumar um jeito de você se vingar delas!!
Essa velha era meio bruxa. Ela foi em casa e preparou uns pózinhos mágicos, embrulhou num papel, voltou e entregou para o rapaz, dizendo:
- Tome meu neto. Você vai colocar esse papelzinho embaixo do batente da porta de entrada da casa das moças. Sem ninguém ver. Depois se esconda. Desapareça de lá por um tempo!!!
O rapaz assim fez. Colocou o papelzinho embaixo do batente da porta de entrada da casa das moças, sem ninguém ver, e foi embora. Logo, uma escrava da casa entrou pela porta, passou pelo batente e foi logo se soltando:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...

O povo da casa não gostou:
- Ô escrava, se segura! Tome vergonha, mulher!!!
Mas a pobre da escrava não conseguia se segurar era só:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
A dona da casa não gostou nada da história:
- Tome vergonha, escrava!! Olha que eu pego a chibata!!
Mas a escrava não conseguia se segurar. A dona da casa ficou furiosa, correu no terreiro, pegou uma chibata e veio como uma doida para dar na coitada da escrava. Mas passou pelo batente da porta e começou a se soltar:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
Agora, era a escrava e a sinhá:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
O povo todo da casa ficou apavorado. Começou a correr e a gritar, passando pelo batente da porta. Agora era o velho, as moças, todo mundo só se soltando:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
O velho da casa gritou:
- Socorro! PUM... Essa casa... PUM... TÁ amaldiçoada.. PUM...PUM...
A sinhá gritou para a escrava:
- Escrava... PUM... vá chamar o padre... PUM... pra benze a casa... PUM...PUM...
A escrava saiu correndo para chamar o padre:
PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM...
Chegou na igreja e chamou o padre:
- Meu sinhô padre-vigário... PUM... a minha sinhá... PUM... tá chamando o sinhô... PUM... pra mode benze a casa... PUM... PUM...
O padre não gostou daquela história:
- Escrava, tenha vergonha!! Na frente da Igreja se soltando!!!
A escrava voltou com o padre:

PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM... PRUM...
Mas foi o padre entrar na casa e... foi logo se soltando:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
O sacristão que vinha atrás, também se soltou:
PUM... PUM... PUM... PUM... PUM...
Benzeram a casa debaixo de muito PUM. O padre foi embora sem dar jeito naquela história.
Passou um tempo, o rapaz voltou. Mas não entrou na casa pela frente. Entrou pelos fundos. Foi entrando, escutando uns barulhos esquisitos e sentindo um cheiro estranho... até que encontrou com o velho da casa e perguntou o que estava acontecendo. E o velho respondeu:
- Ah, meu amigo... PUM... agora nessa casa... PUM... é todo mundo se soltando... PUM...PUM...
As moças, quando viram o rapaz, tentaram se esconder. Mas o rapaz foi mais rápido e zombou muito delas:
- Ah, quer dizer que naquele dia, por que eu soltei um PUMZINHO bem pequenininho, vocês ficaram zombando de mim! Agora estão aí que nem uma bateria! Estou vingado!!
O rapaz foi embora. Tirou o papelzinho de debaixo da porta, acabaram-se os PUNS e a história.
Adaptação de Augusto Pessôa do conto popular“As moças e os Puins”